Timeout Lisboa

Três especialistas comeram os seis (alguns devoraram três e até quatro de empreitada) e depois deram estrelas. Sónia Morais Santos acompanhou esta romaria encarniçada com… água das pedras. Por fim, um vencedor: o Café de S. Bento. 

E nós a insistir… Ele é a melhor bica, ele é o melhor bife… Que eleição virá a seguir? Fazem-se apostas. Será a melhor sardinha assada? A imperial mais bem tirada? O melhor pastel de nata?

A pergunta é pertinente mas, na verdade, ainda não pensámos nisso. Por agora, sim, detivemo-nos no bife. Não um bife qualquer. Um naco do lombo, tenro, a desfazer-se como manteiga na boca, a nadar num molho abundante, nuns casos mais líquido, noutros mais espesso. Na maioria das vezes, bifes que vêm para a mesa dentro de frigideiras com aspecto idoso (felizmente a ASAE ainda não se lembrou de acabar com este belo costume), com o ovo encavalitado, as batatas sobrepostas, tudo ao molho e fé no cozinheiro. Bife à (boa) moda portuguesa, sem ossos nem batatas a la argentina.

Em prova estiveram seis bifes de seis restaurantes. Uns estabelecimentos mais catitas, outros mais cervejeiros. Uns para limpar os pés antes de entrar e afinar a voz antes de dizer “Boa noite”, outros para ir com as calças rotas e a camisa por fora.

Quanto ao júri, o mesmo, isto é, variado. Para começar, Vasco Uva, capitão da selecção nacional de râguebi. Homem de alimento, que não se fazem placagens sem ter o corpo nutrido. Depois, Paulo Fernandes. Um cortador de carne (parece que caiu em desuso e em desgraça a designação de “talhante”) há 27 anos, que trata as peças por tu e sabe distinguir, com precisão laboratorial, um bife português de um estrangeiro, mastigando-o apenas.

Por fim, Lourenço Viegas. O implacável crítico da Time Out Lisboa, sempre atento ao tempero, ao excesso ou à falta de um ingrediente, ao tempo de fogão ou forno, mas também ao atendimento e outros detalhes a que, desta vez, fechou os olhos. Porque o importante não era escolher o melhor restaurante destes seis. Mas o melhor bife.

Claro que houve discrepâncias aqui e ali, como é natural que haja. Um porque se concentrou mais na carne, outro porque se deixou deslumbrar pelo molho, mas no geral todos se inclinaram para as mesmas opiniões. Posto isto, o Café de S. Bento é o grande vencedor. É caro, sim. Meio bife do lombo custa 19-dezanove-19 euros. Mas vem com uma malga de batatas fritas caseiras que fazem lembrar as avós. E, salvo raras excepções, é sempre bom lembrar uma avó. O Café de S. Bento fica na Rua de S. Bento, mesmo ao lado da Assembleia da República. Do outro lado fica o XL, que conquistou um honroso segundo lugar. Vá aos dois numa noite, se tiver estômago para isso.

Sónia Morais Santos

in Time Out, terça-feira, 6 de Novembro de 2007
Share: